COM-PLE-XI-DA-DE. Uma palavra que, para muitos, significa dificuldade ou remete a certa impossibilidade de realização. Na verdade, a palavra complexidade vem do Latim complexus e significa composto por partes interconectadas, formado pela combinação de coisas ou elementos simples. Ainda há a ideia de “em torno”, abrangente. Isso nos dá uma nova perspectiva, não é mesmo?
Pois bem! Em sua vasta obra, Edgar Morin, pensador francês que muito influencia a educação até os dias de hoje, convoca a humanidade a pensar de forma global. Em suas ideias, ele defende que devemos deixar de focar a educação em aspectos conteudistas e passar a olhar para o todo e para a complexidade da interação das pequeninas partes que não só faz esse todo, mas se modificam entre si. Em uma de suas mais lembradas citações “o todo é mais que a soma das partes”, ele nos recorda de que, quando estamos interligados, modificamos o outro e a nós mesmos no processo de aprendizagem e desenvolvimento. É nessa interconexão que Morin nos mostra como pensar de maneira global é um ato complexo e que envolve muitos aspectos. Nesse pensar, entendemos que somos parte de um planeta único que precisa de nós e que nos exige uma ação planetária em busca de igualdade de oportunidades para todas as criaturas que habitam este espaço.
Para aprender, precisamos estabelecer uma relação profunda com o conhecimento. Edgar Morin defende a ideia de que esse conhecimento precisa ser construído e vivenciado a muitas mãos, dentro de uma esfera relacional que vê cada integrante como um componente simples e essencial para a movimentação de mudança. Está aí a sua ideia de complexidade. A educação precisa se despir de conceitos mais antigos e abraçar as relações como algo essencial na construção do conhecimento e na mudança necessária para o desenvolvimento do indivíduo.
Morin coloca o indivíduo como criatura central no processo de transformação para que possamos viver num planeta melhor e mais habitável. Mas precisamos saber de tudo? Não. E seria impossível! Porém, precisamos ter a consciência de que o conhecer está eternamente em construção, independentemente da idade ou do grau de escolaridade. Esse conhecer e viver os saberes precisam estar sempre em parceria com a certeza de que precisamos sempre tentar entender os problemas-chave que afetam o mundo e a possibilidade de trazer mais igualdade e equidade para a Terra. Para tanto, escola e família precisam trabalhar em parceria, buscando a formação do cidadão global. E o que, afinal de contas, é ser um cidadão global?
A cidadania global abraça a ideia de que a identidade do sujeito não pode ser limitada pelo espaço geográfico ou político. A sua identidade está baseada nas ideias de que o mundo não tem tais fronteiras e de que o planeta é formado por seres humanos que não usam suas diferenças econômicas, sociais e culturais como forma de separação, mas como partes simples da complexidade de ser um todo.
A perspectiva da globalização vai além de saber sobre o mundo e aprender línguas. Ela passa pela vivência de conhecer o mundo através do outro – esse outro que não é igual, mas que pode nos ensinar a sermos melhores, mais atuantes e conscientes de que somos vários e formamos um só planeta. A língua inglesa vem somar e ajudar nessa formação de uma identidade global porque ela é uma língua fundamental para que a comunicação eficaz aconteça.
Nesse ponto, a escola e a parceria com a família são elementos muito importantes. É por meio do olhar igualitário e respeitoso ante a multiculturalidade local que podemos expandir para o global. Como assim? Simples. Com as experiências locais, oferecidas pela comunidade escolar e pela comunidade familiar, podemos mostrar aos estudantes o respeito à diversidade, partilhar os desejos de um mundo melhor e mais solidário e incentivar o senso de humanidade. Assim, ajudamos nossos alunos (e até nós mesmos!) a perceber como estamos interligados e como decisões tomadas em uma parte do planeta podem afetar outra.
O cidadão global:
• Constrói seu próprio entendimento sobre o mundo;
• Reflete sobre seus valores e os vivência;
• Aprende, no fazer, mais do que na teoria;
• Questiona a intolerância;
• Participa ativamente das comunidades em que está inserido;
• Valoriza o trabalho em grupo;
• Escuta ativamente o outro;
• Respeita;
• Vê oportunidades na partilha com o outro;
• Dá voz às suas opiniões;
• Entende que tem poder de decisão e transformação no mundo em que vive.
O cidadão global vive a hominalidade que Paulo Freire tanto pregou. Quando o homem exerce o seu papel de Homem, sujeito de sua própria vida e transformador da sociedade, percebe que partilhamos a mesma humanidade, independente de localização político-geográfica, etnia ou crença. Que somos as partes simples da complexidade de sermos humanos e que, nessa complexidade, está a responsabilidade da construção de um planeta melhor no presente e para o futuro.