Um convite a refletir sobre inteligência emocional, o propósito e a confiança entre equipes: como o olhar para si desenvolve a atitude coletiva
Texto Eny Muniz
Este texto pode não ser para você. Mas, com certeza, será para alguém que você conhece. Ou, quem sabe, para me chamar para um bate-papo com seus professores. Por isso, convido você, neste momento, a despir-se de qualquer preconceito que já tenha concebido acerca do que saiba sobre inteligência emocional. Este texto não vai trazer novidades, mas vai fazer você refletir sobre consciência, domínio e controle emocionais. Convido você a ler este texto pensando em todas as pessoas e situações vividas no último ano.
Para Daniel Goleman, em seu livro O cérebro e a inteligência emocional: novas perspectivas, a inteligência emocional (IE) é comprovadamente um poderoso modelo para a educação na forma de aprendizado social e emocional e ainda é reconhecida como um ingrediente fundamental de liderança.
É mais ou menos assim: pessoas com inteligência emocional tendem a ser um agente ativo numa vida plena. Parece simples, não? Mas apenas parece. Para ser emocionalmente inteligente, há um aprendizado constante, nunca estanque, sobre quais habilidades e/ou capacidades são essenciais para viver no dia a dia. Sobretudo nos tempos atuais.
Muito se engana quem pensa que apenas ler os livros e os artigos faz você ter inteligência emocional. Trata-se de ter, ser e viver em estado mental consciente e racional sobre os sentimentos e as emoções. Conhecer sobre IE ajuda muito no processo de reconhecimentos das emoções, mas saber viver e incorporá-la ainda é um desafio constante.
Na busca pelo conhecimento de suas próprias emoções, há de se considerar dois caminhos de aprendizado humano: o do amor e o da dor. Você se perguntará muito e se questionará profundamente sobre propósito. A busca pela essência fará parte desta jornada e você poderá reconhecer, não sem dor, que a sua caminhada está apenas começando. Pouco importa a idade que você tenha ou quantas experiências já viveu.
Ao atingir um estado de autoconsciência, suas dúvidas pairarão sobre ética e tomada de decisão. Esse estado exige de você análise e reflexão sobre cada situação, na vida pessoal ou profissional, e o conflito existencial surge por se tratar de uma questão ética: o que estou prestes a fazer serve a quê, a quem? Isso me serve ou serve ao outro? Tenho certeza de que você já se viu diante desse conflito em situações cotidianas em sua instituição de ensino.
A partir dessa autoconsciência, você pode tomar a seguinte decisão: as minhas atitudes devem contribuir para transformar o mundo. O meu mundo. O meu universo. Só transformando a mim mesmo serei capaz de mudar as coisas ao meu redor.
É preciso, porém, estar minimamente bem emocionalmente para verificar qual é a melhor ação a ser realizada, para que se consiga efetuar mudanças, se elas forem necessárias. No mundo fluido em que vivemos, temos pressa. Para efetuar mudanças, é necessário começar devagar, pequeno. Qualquer mudança repentina de comportamento pode fazer você voltar atrás. Não que voltar atrás seja um problema. Às vezes, voltar atrás significa tomar impulso. Mas fique atento a quantas vezes você teve que voltar atrás. Quantas vezes você desistiu no meio do caminho e quais razões e emoções fizeram você desistir. Possuir autoconsciência faz você ampliar o seu olhar sobre as suas atitudes e sobre as bases e os fundamentos em que elas estão amparadas. Fácil não é, mas é possível se você praticar diariamente.
Quantas vezes você tentou controlar alguma situação?
Em alguma situação da sua vida, você teve a sensação de que estava no controle, que sabia exatamente o que fazer ou que palavras dizer. Logo em seguida, começou a se questionar se havia tomado a melhor decisão. Esse questionamento surge quando deixamos as emoções dirigirem as nossas decisões. No final das contas, não era sobre controlar a situação, mas controlar a sua reação diante dela. Podemos imaginar quantas situações fugiram do controle no último ano simplesmente por vivermos um novo momento e termos de tomar decisões em cenários nunca vividos.
Demoramos a descobrir que tomar decisões importantes em estado de muita emoção, sem identificar qual emoção está presente ali, só nos coloca em situações mais complicadas. É preciso respirar, inspirar, pensar, sentir. Que sentimento é esse e o que você faz a partir do que está sentindo é sua responsabilidade exclusiva. De mais ninguém. Não é possível responsabilizar o outro pelo que estou sentindo, principalmente quando dou permissão para que o outro me faça sentir assim.
Tentar controlar toda e qualquer situação é desgastante e você precisa estar preparado. Por isso, leia, estude, investigue. Quanto mais conhecimento você possuir sobre determinado assunto, melhor será o seu posicionamento. Pense que, dependendo da sua posição ou função, há uma expectativa em relação à sua entrega.
As transformações no modo de trabalho, o mundo digital, as relações pessoais têm contribuído para que você se torne quem deseja ser? E que pessoa é essa? Qual emoção rege suas escolhas e renúncias? O ano de 2020 foi das perguntas mais profundas. E 2021 se apresenta ainda como um grande desafio. Mas que pode ser superado se entendermos de pessoas e suas escolhas baseadas em emoções. Do seu lugar de fala, de onde você lê este texto, reflita: quantas pessoas dependem de você?
Todos nós estamos passando por adaptações, autorregulação e autoajuste emocional. Observamos nossos professores, nossos estudantes e nossas famílias e os questionamentos são: Como fazer isso? Como tomar as melhores decisões? Como controlar as situações? Como manter o foco e a concentração com tantas distrações?
É unânime entre os especialistas: crie uma rotina. Até parece um mantra, eu sei. Mas estudos revelam que acordar 1 hora mais cedo, criar uma rotina saudável, escrever sua lista de afazeres podem ajudar a manter o foco e a concentração.
No livro Quem quer mais, criafoco!, o autor Isaias Eufrosino Rodrigues faz uma observação muito importante: precisamos de foco porque somos seres com infinitas possibilidades de escolha e finita capacidade de realização. Faz sentido, não é mesmo?
Para cada esforço disciplinado, há uma retribuição múltipla.” Jim Rohn
Eu li, recentemente, sobre “o meu eu do amanhã” e o quanto posso deixá-lo mais feliz. Significa basicamente o que já sabemos: não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje.
E você, já pensou em fazer ajustes na sua rotina? O quanto se orgulha de si mesmo pode ser o medidor ideal da sua conduta. Se está sendo mais fácil ser responsável com os outros do que consigo, é necessário rever suas ações. A autorresponsabilidade e o autocontrole exigem esforço, dedicação, escolhas e renúncias.
Se há dificuldade em identificar quais emoções estão regendo suas ações, é hora de pedir ajuda para construir esse alicerce. Por isso, o desenvolvimento pessoal e profissional é tão importante. Compreenda que algumas situações não dependem diretamente de você, mas estão lá esperando uma atitude. E que você, na maioria das vezes, precisa tomar uma decisão.
Sim, é preciso saber frustrar-se. A frustração faz parte da experiência humana e pode ser um fator importante para desenvolver resiliência e persistência. Se algo não aconteceu como o previsto, reveja as rotas, alinhe as velas. O que estou querendo dizer é que você não precisa desistir, mas seguir por outro caminho. Por isso, não desista dos seus sonhos, dos seus professores, dos seus estudantes nem daquela família mais difícil. Seja resiliente e persistente. Vai valer cada minuto que você refletiu para reverter a situação.
Por onde começar?
Para cada situação, analise o contexto, busque referenciais que possam esclarecer o momento e tenha consistência das suas reações. De preferência sem mudanças bruscas de humor.
Mantenha interesse genuíno pelo mundo externo ao seu. Busque aprendizado em lugares, pessoas e coisas que normalmente fazem você refletir sobre elas, por serem diferentes daquilo que vive cotidianamente. Sempre há outro ponto de vista a ser considerado, esteja aberto ao novo. O novo pode estar bem ao seu lado. Uma pergunta importante: você conhece as pessoas com quem mantém contato diário?
Monte a famosa lista de afazeres, mas com dois ingredientes importantes: prazos e metas. Mensure bem o resultado que você deseja alcançar com as suas ações. A busca de resultados faz você refletir melhor sobre a jornada a ser cumprida. Lembre-se sempre: não existe receita pronta, não há modelos replicáveis. Há modelos que podem inspirar você. Você cria o mundo ao seu redor. Mas que mundo é esse?
Tenha consciência do seu próprio processo de aprendizagem. Esse processo dura a vida toda. Seja generoso com você. Todo ser humano pode se sentir cansado em algum momento, e mudanças significativas levam tempo. Mas não fique rodando em círculos, vá atrás do seu propósito, da sua essência, da sua missão.
Porque, no final das contas, seu melhor amigo é você mesmo. Achou que você era o seu pior inimigo? Engano seu, você é o seu melhor amigo.
Finalizo aqui com Fabricio Carpinejar: “Ninguém muda sendo pressionado. Ninguém melhora sofrendo cobranças. A pessoa deve ter paz para entender o conflito, tempo para refazer a confiança e espaço para o trabalho de parto da personalidade”.
Viu? Este texto pode não ser para você, mas, com certeza, será para alguém que você conhece. Ou até mesmo para rever a formação dos seus professores sobre inteligência emocional. Então, vamos bater um papo?
ENY MUNIZ é professora, especialista em linguagens, marketing e comunicação, sua grande paixão. Atualmente, é diretora acadêmica do Projeto UNO Educação.
PARA SABER MAIS:
GOLEMAN, D. O cérebro e a inteligência emocional. São Paulo: Objetiva, 2012.
RODRIGUES, I. E. Quem quer mais, criafoco!. Belo Horizonte: Open Place, 2017.