Você já ouviu falar da BNCC, mas talvez ainda não saiba exatamente como ela afeta o dia a dia da sua escola. A Base Nacional Comum Curricular orienta o que deve ser ensinado nas escolas de todo o país, garantindo direitos de aprendizagem iguais para todos os estudantes. E isso vale desde a Educação Infantil até o Ensino Médio.
Suas diretrizes promovem um currículo mais equitativo, atualizado e centrado no desenvolvimento de competências fundamentais para a vida em sociedade. Vamos entender como isso tudo funciona na prática? Confira!
O que é a BNCC?
A BNCC é um documento normativo elaborado pelo Ministério da Educação (MEC) que define as competências e habilidades essenciais que todos os alunos da educação básica devem desenvolver ao longo da vida escolar.
Ela foi oficialmente homologada em 2017 (para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental) e em 2018 (para o Ensino Médio), após um longo processo de consulta pública com educadores, instituições de ensino e sociedade civil.
A BNCC não é um currículo pronto, mas um guia que orienta o que deve estar presente no currículo das redes e escolas, públicas ou privadas. Ela organiza os conteúdos por áreas do conhecimento e componentes curriculares, sempre vinculando os saberes ao desenvolvimento integral do estudante.
Qual é seu objetivo?
Seu principal objetivo da BNCC é assegurar o direito de aprendizagem de todos os estudantes, promovendo mais equidade educacional no Brasil. Ou seja, não importa se um aluno estuda em uma escola rural no interior do Amazonas ou em uma escola da capital paulista — todos têm direito a aprender as mesmas habilidades e competências essenciais.
Além disso, a BNCC busca tornar o ensino mais significativo e conectado com a realidade dos estudantes, preparando-os para enfrentar desafios reais, com autonomia, pensamento crítico, criatividade, empatia e capacidade de colaborar com os outros.
A ideia é sair de um ensino centrado apenas na memorização de conteúdos e caminhar para uma formação mais ampla, que prepara para a cidadania e para o mundo do trabalho.
Quais são as competências e habilidades da BNCC?
A Base Nacional Comum Curricular prevê dez conjuntos integrados de conhecimentos, habilidades, valores e atitudes, que devem nortear a elaboração dos currículos. Numa linguagem mais direta, resumo aqui cada uma das dez competências:
- Valorizar e utilizar conhecimentos sobre o mundo físico, social, cultural e digital e estar pronto para continuar aprendendo ao longo da vida e colaborar para uma sociedade justa, democrática e inclusiva;
- Exercitar a curiosidade intelectual e desenvolver pensamento científico e crítico, de forma a resolver problemas e criar soluções inovadoras, inclusive com o uso de tecnologias;
- Ser dotado de um repertório cultural e artístico, tanto local como global;
- Utilizar diferentes linguagens num processo rico de comunicação em diferentes contextos;
- Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de forma crítica, significativa, reflexiva e ética;
- Apropriar-se de conhecimentos e experiências que lhe permitam entender o mundo do trabalho e fazer escolhas com base no seu projeto de vida e em seus sonhos como cidadão;
- Argumentar com base em fatos e dados científicos e saber negociar com os outros, numa perspectiva que promova os direitos humanos, a consciência socioambiental e a ética;
- Desenvolver o autoconhecimento e o autocuidado;
- Exercitar a empatia, o diálogo, a resolução de conflitos e a cooperação;
- Agir pessoal e coletivamente com autonomia, responsabilidade, flexibilidade, resiliência e determinação de forma ética, democrática, inclusiva, sustentável e solidária.
Espera-se que os jovens aprendam o conhecimento humano produzido ao longo do tempo e que também estejam prontos para articulá-los, mobilizá-los e aplicá-los em diferentes âmbitos.
Leia também: BNCC: Como trabalhar competências socioemocionais?
O que são os campos de experiências?

Nesses campos, os diferentes saberes se combinam, tal como estão ligados no mundo real. Assim, a criança pequena aprende sobre palavras e escrita e, ao mesmo tempo, sobre as complexas relações sociais existentes em seu ambiente, desenvolve seu corpo e o seu raciocínio matemático:
- O eu, o outro e o nós;
- Corpo, gestos e movimentos;
- Traços, sons, cores e formas;
- Escuta, fala, pensamento e imaginação;
- Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações.
Atualmente, várias escolas e municípios estão debruçados sobre esta parte da Base para adequar propostas pedagógicas e currículos. O que os pais podem fazer para apoiar este esforço? Nossas dicas são:
- Participar das discussões na escola sobre a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e sobre a proposta pedagógica a ser adotada;
- Conversar com os filhos, de acordo com a faixa etária, sobre eventuais mudanças no currículo;
- Conscientizar-se de que o principal ator na formação dos filhos continua sendo os pais e que, tanto na escola, como na família, a criança aprende mais com o que os adultos fazem do que com o que eles dizem que deve ser feito;
- Criar um ambiente afetivo em casa, inclusive para que os filhos se sintam à vontade para comentar eventuais frustrações ou sofrimentos, de forma que se possa dialogar na escola sobre temores eventuais e fazer com que a criança se sinta protegida e amada;
- Respeitar os educadores e ensinar os filhos a respeitá-los;
- Ler para seus filhos sempre que possível, ensiná-los a usar livros da biblioteca escolar e criar, dentro dos recursos da família, um acervo de livros para as crianças;
- Perguntar a cada dia à criança o que ela aprendeu ou fez de interessante na escola, comunicando de forma clara o seu interesse pelo aprendizado dela, que pode ser rico e instigante.
Um bom começo: a Educação Infantil
Não é simples trabalhar propostas curriculares com bebês e crianças pequenas. Na Primeira Infância aprende-se por meio de exploração do ambiente e de interações com adultos significativos, muitas vezes a mãe e o pai. Aprende-se por experiências e brincadeiras.
Assim, parece estranho pensar em organizar o processo de aprendizagem dos pequenos com etapas ou conteúdos a serem dominados. Na verdade, não se deve mesmo fazê-lo, já que não se trata de definir a forma como os conhecimentos se acumulam nesta idade.
A parte da BNCC referente à Educação Infantil está organizado em três grupos de faixa etária assim distribuídos:
- Creche: bebês (zero a 1 ano e 6 meses) e crianças bem pequenas (1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses);
- Pré-escola: crianças pequenas (4 anos a 5 anos e 11 meses).
Além disso, o documento afirma que devem ser assegurados às crianças os seguintes direitos de aprendizagem e desenvolvimento: conviver, brincar, participar, explorar, expressar-se e conhecer-se.
Considerando esses direitos, a BNCC de Educação Infantil estabelece campos de experiências para que as crianças possam aprender e se devolverem. Assim, a criança aprende de forma lúdica, a partir da organização de atividades e do ambiente. Por isso, a Base define o que é brincar com intencionalidade pedagógica.
As brincadeiras precisam ser preparadas para que a criança possa ampliar seu vocabulário, estar imersa em ambiente letrado, aprender a relacionar-se de forma saudável com as outras crianças e adultos e sentir-se bem.
Crescendo com a criança: o Ensino Fundamental I (ou Anos iniciais)
A parte da BNCC referente aos Anos iniciais do Ensino Fundamental (1º ao 5º ano) não consiste em um corte abrupto no que se passa na Educação Infantil, já que continua valorizando situações lúdicas e brincadeiras no processo de aprendizagem.
No entanto, progressivamente, uma maior sistematização das experiências vividas pela criança começa a aparecer. No Ensino Fundamental a organização é por áreas do conhecimento, com competências específicas e habilidades a serem desenvolvidas.
O caráter mais complexo do documento nesta parte não permite um detalhamento neste texto curto, mas os pais devem ter claro que deverá haver uma tradução desta parte da Base em currículos das redes públicas de ensino e propostas pedagógicas para cada escola pública e particular.
Este processo deverá permitir que os pais entendam o que se espera que seus filhos aprendam e possibilitará que acompanhem mais de perto a vida escolar das crianças.
Há, nesta etapa de escolaridade, atitudes que os pais podem adotar para tornar este processo mais adequado para as crianças, algumas delas já mencionadas na parte referente à Educação Infantil:
- Participar das discussões na escola sobre a BNCC e sobre a proposta pedagógica a ser adotada;
- Conversar com os filhos sobre eventuais mudanças no currículo. Não se intimide com a linguagem da área, que pode eventualmente lhe parecer estranha. Afinal, cada área de atividade humana tende a ter uma linguagem própria;
- Conscientizar-se de que o principal ator na formação dos filhos continua sendo os pais e que, tanto na escola como na família, a criança aprende mais com o que seus pais ou professores fazem do que com o que dizem que deve ser feito;
- Criar um ambiente afetivo em casa, inclusive para que os filhos se sintam à vontade para comentar eventuais frustrações ou sofrimentos, para que possam dialogar na escola temores eventuais; fazer com que a criança se sinta protegida e amada;
- Fazer com que a criança assuma responsabilidades, de acordo com a faixa etária, por suas condutas. Estabelecer limites com amor não estraga a criança;
- Atuar com firmeza se pressentir que a criança está sendo vítima ou mesmo cometendo bullying real ou virtual. É importante também ensinar empatia aos filhos e ser assertivo caso, sozinhos ou em grupo, humilhem algum colega;
- Conversar com as crianças sobre os valores apontados nas competências gerais da BNCC, especialmente sobre aqueles que envolvem seu projeto de vida e seus sonhos de futuro. É importante que desde cedo elas se conscientizem que são empreendedoras de suas próprias vidas e que o que aprendem na escola é instrumental para isso;
- Respeitar os professores e outros funcionários da escola e ensinar os filhos a respeitá-los, mesmo quando discorda deles;
- Ler para seus filhos sempre que possível, ensiná-los a usar livros da biblioteca escolar e criar, dentro dos recursos da família, um acervo de livros para as crianças;
- Perguntar a cada dia à criança o que ela aprendeu ou fez de interessante na escola, comunicando de forma clara o seu interesse pelo aprendizado dela, que pode ser rico e instigante.
Prazo para implementação
A implementação da BNCC nas redes de ensino foi estabelecida por meio de um cronograma oficial divulgado pelo Ministério da Educação.
O processo começou logo após a homologação do documento, em dezembro de 2017 para a Educação Infantil e o Ensino Fundamental, e em 2018 para o Ensino Médio.
As redes públicas e privadas tiveram o prazo de até o final de 2019 para alinhar seus currículos às diretrizes da BNCC nos primeiros segmentos da educação básica.
Já no caso do Novo Ensino Médio, o prazo foi um pouco mais amplo e flexível, devido às mudanças estruturais mais significativas, como a adoção dos itinerários formativos.
A obrigatoriedade plena passou a valer a partir de 2022, com a implementação gradual dos novos modelos de organização curricular.
Saiba mais: Como a interdisciplinaridade transforma o ensino no Novo Ensino Médio.
Conclusão
A BNCC vai levar algum tempo para ser implementada de forma plena, mesmo depois de os currículos e as propostas pedagógicas serem estruturados. Isso porque materiais de apoio e capacitação precisarão ser oferecidos aos professores e isso não se faz do dia para a noite.
Por isso, acompanhe o processo na escola de seu filho e na cidade em que vive. Definir uma base que estipula o que todos precisam aprender é o que fizeram os países com bons sistemas educacionais e este é o primeiro passo de um caminho para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária (menos desigual).
Gostou deste conteúdo? Então, confira tudo sobre o papel do gestor na adequação do currículo à BNCC!