Bete P. Rodrigues*
Eu já ouvi muitos professores dizerem que as mães e os pais dos alunos dão mais trabalho para eles do que os próprios alunos. Não é incomum também o contrário: pais e mães procurarem a coordenação ou direção da escola para reclamar de algum professor. Infelizmente, também é frequente encontrar reclamações sobre profissionais da escola em grupos de WhatsApp de pais. Essas atitudes acusatórias não costumam resolver nada nem gerar bons frutos – só desrespeito, mágoas, distanciamento.
Como essa relação entre famílias e professores pode ser mais respeitosa e empática? Como criar uma verdadeira parceria entre todos? Afinal, a família tem um papel fundamental no processo de aprendizado das crianças.
Um ponto importante é tentar se colocar no lugar do outro e desenvolver a empatia.
Esta pandemia permitiu que as famílias pudessem acompanhar mais de perto os estudos dos seus filhos em casa, e isso, em alguns casos, foi uma excelente oportunidade para que o Magistério fosse mais valorizado. Não poder levar os filhos para a escola obrigou as famílias a se envolverem mais nas questões pedagógicas e educacionais, e viram que não é fácil dar aula para um (ou alguns filhos), e conseguiram imaginar como é desafiador atuar em uma sala repleta de indivíduos com necessidades e desejos diferentes. Sentiram “na pele” que o que os professores fazem é muito mais do que transmitir conteúdos; é administrar conflitos, modelar comportamentos, ensinar habilidades socioemocionais e muito mais. A escola é uma minissociedade e um lugar seguro para que nossos filhos aprendam importantes lições de vida ao conviver com pessoas tão distintas.
Professores, por sua vez, nesta pandemia, precisaram reinventar-se e desenvolver habilidades para lecionar, usando os recursos digitais da noite para o dia. Muito mais confortável seria dar aulas presenciais – mas essa não foi uma possibilidade nos últimos meses. Professores conheceram as casas dos alunos e vice-versa. Tornaram-se mais íntimos, mesmo que distantes fisicamente, e mais empáticos.
Dessa experiência, quase todos perceberam como essa parceria entre escola e família é importante para as crianças e os adolescentes. Aprendemos a julgar menos e a nos solidarizar mais. Lembramos que dependemos dos outros e que, juntos, somos mais fortes.
As crianças aprendem muito observando as relações dos adultos ao seu redor. Por isso, falar mal de outras pessoas é tão maléfico. Destrói a confiança da criança naquela pessoa que ela até então confiava.
Uma boa forma de fortalecer essa parceria é criar oportunidade de comunicação respeitosa, objetiva e assertiva entre todos.
Quando as famílias têm acesso ao que acontece com seus filhos dentro da escola, sentem-se muito mais tranquilas e confiantes, e isso evita reclamações infundadas e conflitos.
Quando professores têm acesso a informações, diagnósticos e dados sobre seus alunos, podem colaborar com mais eficiência, visando sempre ao desenvolvimento destes.
Reuniões entre famílias e professores são uma boa estratégia para alinhar expectativas, trocar informações e resolver problemas em colaboração. A pauta pode ser definida com antecedência e haver espaço para as informações, o feedback e o esclarecimento de dúvidas. Quando escola e família buscam soluções juntas para os desafios de comportamento e fazem uma intervenção precoce, muitos problemas futuros são evitados.
Escolas que oferecem palestras e workshops à sua comunidade também encorajam relações saudáveis entre os seus colaboradores e as famílias. Essa é uma das muitas estratégias que gestores escolares podem adotar, para que as famílias se sintam bem-vindas na escola e queiram colaborar. Ao se sentirem acolhidas, as famílias certamente serão empáticas e respeitosas.
Por isso, aconselho que as escolas abram suas portas e deixem que pais e mães “entrem na sala de aula de seus filhos”, saibam mais sobre o desenvolvimento deles e possam, de verdade, confiar nos profissionais que trabalham na instituição escolhida. E aconselho as famílias que colaborem com as escolas sempre que solicitadas, e que contribuam, reforçando a importância do respeito aos profissionais de educação, do cumprimento das tarefas e das obrigações escolares.
Todos estão fazendo o seu melhor dentro das condições que têm. E, juntos, professores e famílias podem focar no que realmente importa: o desenvolvimento saudável dos filhos/alunos. Essa pode ser uma verdadeira relação ganha-ganha.
*Bete P. Rodrigues é graduada e licenciada em Letras (Português e Inglês) e mestre em Linguística Aplicada pela PUC-SP. Trainer em Disciplina Positiva para pais e reconhecida pela Positive Discipline Association (da qual é membro). É coach pelo ICI (Integrated Coaching Institute) e especializada em atendimento de pais, psicólogos e educadores. É diplomada em Neurolinguística pela International Neuro-Linguistic Programming Trainers Association. Cotradutora dos livros: Disciplina Positiva; Disciplina Positiva em sala de aula; Disciplina Positiva para crianças de 0 a 3 anos; Disciplina Positiva para adolescentes; Disciplina Positiva para educar filhos; Disciplina Positiva para professores; e Disciplina Positiva para casais.