Compreender, utilizar e criar tecnologias digitais de informação e comunicação de forma crítica, significativa, reflexiva e ética nas diversas práticas sociais (incluindo as escolares) para se comunicar, acessar e disseminar informações, produzir conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e autoria na vida pessoal e coletiva.” (BNCC, 2018)
Começamos esse texto com uma passagem da Base Nacional Comum Curricular escolhida especialmente por tratar do uso das tecnologias digitais na educação e, assim, dizer que, sem dúvidas, a digitalização é um ponto de encontro quando falamos no desenvolvimento dos alunos. Afinal, temos não só como um meio de propagação confiável e rápido de informações, mas, também, um convite para que as crianças e os adolescentes construam conhecimento de maneira sólida e já em consonância com as ferramentas digitais. Afinal, um clique é o que nos separa do mundo. Apesar disso, é importante que as crianças desenvolvam uma postura mais crítica e questionem a informação consumida, afinal, as famosas fake news estão por toda parte.
Pensando nisso, o tema da nossa conversa será o letramento transmídia. Mas, antes, queremos saber: você sabe o que é isso?
Para que esse termo fique bem esclarecido, lembre de você quando criança. Pense: gostava muito de assistir um desenho na televisão e era tão fã de um determinado personagem que tinha livros desse desenho, passava horas brincando com os bonecos da animação e colocava o CD para tocar com as principais canções da trilha sonora oficial? Um fã do tipo “número 1” mesmo, sabe? Todas as suas atividades tinham relação com esse desenho animado, independentemente de qual meio era utilizado para você fazer parte do universo pelo qual era apaixonado.
Sabendo disso, é possível notar que você percorreu um mesmo assunto, neste caso o desenho, de diferentes maneiras: por meio da televisão, de livros, de bonecos físicos e do CD. E esse mesmo trajeto pode acontecer com a educação: os professores podem apresentar o conteúdo aos alunos de diferentes maneiras e, nesse contexto, podem contar com a ajuda da tecnologia. Essa abordagem multifacetada tem um nome e, agora, você já deve saber qual é: letramento transmídia!
Uma estratégia que ensina por diferentes meios, engaja os estudantes, coloca os alunos como centro do processo, pode fazer uso ou não da tecnologia, estimulando habilidades requeridas pela BNCC, como o letramento digital e a cidadania digital e, por fim, conclui o seu objetivo final: ensinar um novo conteúdo.
O termo “transmídia” pode ser novo na educação, mas é conhecido de longa data na indústria do entretenimento e da comunicação. Segundo a Sociedade Brasileira de Gestão de Conhecimento, a definição básica do termo transmídia é a transmissão de uma mensagem ou de história por meio de várias mídias, fazendo com que o foco na verdade seja a história a ser transmitida. Um bom exemplo dessa abordagem no cinema é o sucesso da franquia Star Wars: após o lançamento do filme em 1977, ela ganhou espaço na TV, histórias em quadrinhos, animações e games. Hoje, definitivamente, falamos em um universo que tem personagens, enredos e seguidores em todo o mundo.
Haja sucesso, não é mesmo? Mas esse resultado também pode ser conquistado em sala de aula. Quer saber como? Preparamos uma lista de ideias para trabalhar um mesmo conteúdo em diferentes mídias:
GASTRONOMIA OU MATEMÁTICA?
Além de utilizar o tradicional livro de matemática (1ª mídia) para ensinar as operações básicas e as unidades de medida, os professores podem levar o assunto para a cozinha e preparar uma receita. Utilizando um livro de culinária (2ª mídia) ou buscando uma receita em um site (3ª mídia), aproveite para analisar as quantidades dos ingredientes com os alunos e coloque a mão na massa. Desta forma, as crianças terão a oportunidade de combinar todas as fontes de informação em uma prática que unifica o conhecimento e o tangibiliza em uma criação (4ª mídia).
TEORIA, PRÁTICA E EXEMPLOS NA EDUCAÇÃO FÍSICA
É importante que antes de jogar futebol, por exemplo, os alunos tenham contato com a teoria do jogo, ou seja, aprendam as regras. Para isso, o professor pode utilizar um material impresso (1ª mídia) que contém todas as informações. Após essa etapa, vídeos (2ª mídia) podem ser exibidos em sala de aula demonstrando como a atividade é realizada. Por último, mas não menos importante, as crianças utilizam a quadra (3ª mídia) para praticar o esporte.
PASSEIOS CULTURAIS, MÚSICAS E FILMES
Um assunto importante e que deve ser abordado em sala de aula é o racismo. Para debater esse assunto em sala de aula, os professores podem utilizar filmes (1ª mídia), como:
- Infiltrados na Klan (Spike Lee) – classificação indicativa: 16 anos
- Corra! (Jordan Peele) – classificação indicativa: 14 anos
- 12 Anos de Escravidão (Steve McQueen) – classificação indicativa: 14 anos
Para dar continuidade no tema, os professores podem escutar músicas (2ª mídia) com os alunos e trabalhar a interpretação da canção, bons exemplos são:
- A Carne – Elza Soares
- This Is America – Childish Gambino
- Negro é Lindo – Jorge Ben Jor
E nada melhor do que tratar um assunto por meio da história, certo? Para isso, promova um passeio cultural por um museu (3ª mídia) que apresente a temática. Em São Paulo, por exemplo, os estudantes podem visitar o Museu Afro Brasil, localizado na Vila Mariana.
AVALIAÇÕES E AULAS DIGITAIS
Já pensou em realizar uma avaliação por meio de um questionário digital? Que tal fazer uma revisão da matéria por meio de um quizz online? Tudo isso pode ser realizado por meio da tecnologia que, combinada com os tradicionais livros, nos proporciona resultados incríveis.
Lembra aquele ditado “a ordem dos fatores não altera o resultado”? Para o letramento transmídia, podemos dizer que “o meio não altera o resultado”. Afinal, com a educação transmídia a ordem em que o conteúdo será consumido não impacta a compreensão, pois a soma das várias camadas dará sentido ao todo. Então, convidamos você a colocar a mão na massa e praticar a estratégia na sua escola!